segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

ÁREA É VILA OLIVA

A melhoria do transporte aéreo de passageiros e de cargas da Serra vive um momento de dualidade. Embora o governo federal tenha R$ 100 milhões em seu orçamento para investir em um novo terminal, entre as lideranças da região não há consenso sobre a localização do novo aeroporto. À parte os interesses de um e outro município, recentes estudos técnicos do Departamento Aeroportuário do Estado (DAP), da Anac e do Cindacta II apontam que a área ideal é a de Vila Oliva, no interior de Caxias do Sul.
NÁDIA DE TONI
Caxias do Sul - Há quase duas décadas, a construção de um novo aeroporto na Serra não consegue decolar. O principal entrave é quanto à área que receberia o terminal, destinado a atender passageiros de rotas domésticas e internacionais e realizar transporte de cargas em grande escala. As cidades de Canela, Caxias do Sul e Farroupilha brigam para sediar a obra, tanto que se chegou a cogitar que dois aeroportos seriam erguidos: um na Fazenda do Ipê, voltado à demanda de turistas da Região das Hortênsias, e outro em Vila Oliva, distrito de Caxias, para atender mais ao pólo industrial. Se esse sonho de políticos e empresários fosse possível, a Serra galgaria uma posição mais que privilegiada, com novos aeroportos a apenas 20 quilômetros de distância em linha reta. Entretanto, esse desejo, que custaria pelo menos R$ 120 milhões, não deve se tornar real. Pareceres técnicos emitidos recentemente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pelo Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II) defendem que somente o terreno de Vila Oliva, com 445 hectares, seria viável para investimentos. O Departamento Aeroportuário do Estado (DAP) também chegou a essa conclusão. Semana passada, havia a esperança de que o debate sobre a localização do aeroporto avançasse, durante uma reunião temática com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias. Entretanto, devido a outros compromissos, Jobim cancelou o encontro. Não há previsão de novo agendamento. - O que existe de concreto até agora é o nosso estudo, que sugere escolher o sítio aeroportuário de Caxias e abortar o projeto de um aeroporto nas Hortênsias, porque haveria confronto de tráfego - revela Roberto Carvalho Netto, gerente da Anac para a Região Sul. Área de campo, as terras de Vila Oliva teriam condições para abrigar um aeroporto com pista de 3 a 4 mil metros de extensão (o atual aeroporto de Caxias tem pista de 2 mil metros) e capacidade para operar com cargueiros como um Boeing 747-300. Outro diferencial é que o licenciamento ambiental da área seria facilitado, segundo o engenheiro Fernando Cavalcanti Bizarro, do DAP, porque não existe floresta nativa, apenas vegetação rasteira e pomares. O mais recente Plano Diretor de Caxias, aprovado em 2007, prevê o destino daquela área para um aeroporto. A área sugerida na comunidade de Mato Perso, em Farroupilha, estaria descartada tecnicamente por abrigar uma bacia de captação, ser acidentada, ficar próxima à região com moradias e ainda haver obstáculos aéreos, como a Igreja de Nossa Senhora de Caravaggio, explica Bizarro. Nas terras farroupilhenses, a pista poderia ter no máximo 2,4 mil metros. Já em Canela, onde o projeto se arrasta desde 1989, o maior empecilho seria ambiental, uma vez que 51% da área é de floresta pinus e 4,72% de mata nativa. Nem o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na esfera federal, nem a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) querem se responsabilizar pelo licenciamento, e o caso é discutido na Justiça Federal desde 1999. Entretanto, a opção por Vila Oliva excluiria a obra em Canela, lembra Sérgio Sparta, diretor do DAP. Discussões - Com a preferência por Caxias, são previsíveis novos embates entre políticos e empresários da região. Ainda em 15 de dezembro de 2006, o engenheiro Bizarro, então diretor do DAP, assinou parecer positivo para construção do aeroporto na área de Vila Oliva. Várias reuniões se sucederam em CICs e Câmaras de Vereadores e, apesar da avaliação técnica, não houve consenso nem avanços. O ex-presidente da Anac, Milton Zuanazzi, participou de alguns desses encontros e, pressionado, em vez de se posicionar a partir dos dados técnicos preferiu determinar a reavaliação de áreas pelo órgão, conforme revela uma fonte da Anac. Assim, tudo ficou como estava. Com a área confirmada, uma grande empreitada viria pela frente: desapropriação das terras (no caso de Vila Oliva,13 famílias), elaboração de projeto e captação de recursos. Esse último item já estaria assegurado, uma vez que no início do ano a bancada gaúcha no Congresso Nacional, formada por 31 deputados e três senadores, conseguiu aprovar uma emenda de R$ 100 milhões no Plano Plurianual do governo federal (2008-2011 ) para o aeroporto. Esse dinheiro é certo, só que para vir é preciso existir uma área definida e um projeto. - Seja qual for a cidade beneficiada, tem de haver uma decisão para que possamos prever avanços. Uma região próspera como a nossa precisa de um aeroporto maior e mais equipado - opina Milton Corlatti, presidente da CIC de Caxias.
Plano de expansão
A construção de um novo aeroporto em Caxias do Sul faz parte do Plano Aeroviário do Estado (PARGS) 2003-2022. A obra também foi aprovada, em 2003, pelo estudo sobre Desenvolvimento Regional e Logística de Transportes do Rio Grande do Sul, o Rumos 2015. Equipe de técnicos da Anac esteve na área de Vila Oliva, de 17 a 20 de julho de 2007, e deu parecer favorável ao terreno juntamente com técnicos do Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II). Em setembro do ano passado, um novo estudo foi realizado na área pelos mesmos órgãos, comprovando a tese do primeiro.
SAIBA MAIS
O ATUAL AEROPORTO DE CAXIAS

- Onde fica: bairro Salgado Filho, zona sul, a 4 quilômetros do centro de Caxias
- Dimensões do terreno: 56 hectares
- Aeronaves que podem operar: Boeing 737-500 (144 passageiros) Fokker F-100 (108 passageiros) e Airbus A 320 (176 passageiros)
- Pista: 2 mil metros de extensão e 30 metros de largura
- Terminal de passageiros: 1,8 mil metros quadrados
- Pátio de estacionamento de aeronaves: 1,3 mil metros quadrados
- Altitude considerada: 754 metros
- Movimento médio de passageiros: 120 mil ao ano
PRÉ-PROJETO DE VILA OLIVA
- Onde fica: imediações da Fazenda Tabela, a 34 quilômetros do centro de Caxias
- Características: área de campo, com vegetação rasteira, além de pomares
- Dimensões do terreno: 445,529 hectares, de propriedade de 13 famílias
- Aeronaves do pré-projeto: Boeing 767-300 ER (entre 200 e 300 passageiros) e Boeing 747-300 (cargueiro)
- Capacidade da pista: 3 mil metros de extensão e 45 metros de largura
- Terminal de passageiros: 4 mil metros quadrados
- Pátio de estacionamento de aeronaves: 20 mil metros quadrados
- Terminal de cargas: 6 mil metros quadrados
- Altitude considerada: 900 metros. A infra-estrutura prevista possibilita vôos da Serra para a América do Norte, África e Europa
- Estimativa de demanda de passageiros: 600 mil ao ano
CUSTOS ESTIMADOS
- Desapropriações: R$ 2,394 milhões
- Estudos: R$ 250 mil
- Projetos: R$ 1,6 milhão
- Obras: R$ 100 milhões
NOVO AEROPORTO EM VACARIA
Há dois anos, as obras do aeroporto regional de cargas de Vacaria estão paralisadas. No final de 2007, a Anac repassou ao Estado R$ 1,68 milhão para a retomada dos trabalhos, mas os recursos ainda não chegaram ao município. A verba seria utilizada para finalização da terraplanagem, pavimentação e drenagem da pista de pouso.
O custo total do projeto do aeroporto é de R$ 25 milhões, sendo que R$ 6 milhões já foram investidos no terminal antes do rompimento do contrato entre a construtora responsável e o governo, no final de 2005. A empresa abandonou a obra devido a desentendimentos com o Estado. O aeroporto será utilizado para escoamento da produção agrícola dos Campos de Cima da Serra. A previsão é de que seja inaugurado em cinco anos
O p i n i õ e s
"A Serra precisa de uma plataforma logística integrada a um aeroporto. Não basta ter um novo aeroporto só para passageiros e cargas específicas. É preciso traçar um projeto que integre também carga rodoviária, porto seco e ferrovia, e beneficie toda a região, não apenas os interesses de uma localidade. Hoje, no entanto, o Estado está concentrado em melhorar o que já existe, porque o sistema de logística gaúcho é deficitário. Cometeríamos um erro estratégico se partíssemos para novos investimentos sem antes duplicar as já saturadas rodovias, por exemplo".
Daniel Andrade
Secretário Estadual de Infra-estrutura e Logística (ligado ao DAP)


"O Rio Grande do Sul precisa de um segundo aeroporto internacional, além do Salgado Filho, e a região de Caxias é a alternativa. Não podemos pensar pequeno. Canela tem que ter seu novo aeroporto com características específicas para a demanda turística. E a região de Caxias e dos Vinhedos necessita de um aeroporto também para transporte de cargas, de porte internacional. Seria ótimo ter um cenário que permitisse fazer apenas um aeroporto, mas esse cenário não existe. Temos que realizar duas obras. Novos estudos para identificar as áreas certas devem ser feitos."
Gilberto Pepe Vargas (PT)
Deputado federal, autor da emenda coletiva que garantiu R$ 100 milhões no Plano Plurianual do governo Federal para o aeroporto


"O jogo de empurra-empurra entre Fepam e Ibama ainda não terminou, mas Canela vai continuar lutando para sediar um aeroporto. Só vamos nos conformar em não receber a obra se for inviável tecnicamente. O aeroporto seria de extrema importância para a Região das Hortênsias porque atrairia mais turistas de mais regiões do país."
Carmen Seibt de Moraes (PP)- Prefeita em exercício de Canela




"Defendemos um novo aeroporto mais central para atender a região dos Vinhedos, mas sabemos que a topografia e as questões ambientais da região estudada em Mato Perso, área que conheço muito bem, podem inviabilizar a obra, e ficaríamos discutindo o projeto mais 50 anos. O importante é que o investimento venha para a Serra logo. Não vamos conflitar politicamente informações técnicas."
Bolivar Pasqual (PMDB) - Prefeito de Farroupilha




"Temos a convicção de que Vila Oliva é a melhor área para um novo aeroporto regional, tanto que em 2007 aprovamos no Plano Diretor de Caxias a preservação daquelas terras como sítio aeroportuário. Não somos bairristas, os levantamentos técnicos é que são favoráveis à obra no local, consideradas questões topográficas, ambientais e extensão. É importante que a região se una para tornar esse aeroporto uma realidade. Um dia perdido em discussões representa um mês de atrasos na execução do projeto."
José Ivo Sartori (PMDB) - Prefeito de Caxias do Sul



"Somos favoráveis que o novo aeroporto atenda aos anseios e necessidades de toda a região, não de uma cidade somente. É preciso unir questões técnicas e estratégicas. Se o aeroporto ficar a 70, 80 quilômetros da cidade (caso da área em Vila Oliva) talvez seja mais viável às empresas de Bento continuar realizando transporte de cargas via Porto Alegre. Um aeroporto muito distante da maioria das cidades da Serra acabaria sem demanda."
Alcindo Gabrielli (PMDB) - Prefeito de Bento Gonçalves
Fonte: JORNAL PIONEIRO DE 25 DE FEVEREIRO DE 2008